Carlos Flies
♫♪ I gotta find myself a way out / To keep me away from touching the ground ♫♪ (About Kings and Queens I - The Sorry Shop)
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Está decidido: Deus é um super computador
Estou satisfeito em anunciar que resolvi por todos nós, de uma vez por todas, a questão de Deus: Deus é um super computador, com CERTEZA ABSOLUTA. Sim, 100% certo, 0 dúvidas.
Foi uma epifania que tive na hora de esquentar a comida pro almoço. Estava eu requentando o frango de ontem que estava na geladeira, apesar de saber o risco enorme que corria, porque tinha lido aqui, no dia anterior, que é um baita perigo requentar algumas comidas, e galinha é uma delas; pois é... Nesse trapézio alimentar em que minha pessoa se aventurava — agora sei que foi o Super Computador (já podemos começar a chamá-lo assim) que não deixaria acontecer nada comigo, se fosse só dessa vez... — que as ideias fluíram de uma forma lokaça. Foi graças às minhas FURGs mentais que, no epiteto da genialidade, saçariquei com a verdade absoluta. Tentarei agora, da forma como me for possível, memorar e descrever minha desbravadora descoberta nessa mata inexplorada — Asimov nunca existiu, mas isso explico outro dia —, que meu pensamento (original!) percorreu até finalmente descoisificar as coisas. Para todos, Deus, agora, estará para sempre, definitivamente, incontestavelmente, desnudado.
...
Bah, pior que fiquei aqui um tempão procurando um jeito de explicar, mas é muito complexo. É difícil refazer o caminho epifânico que tive em palavras. Até pensei em resgatar a mesma viagem emulando as mesmas condições nas quais tive o grande momento de genialidade fugaz, talvez assim eu fechasse a gestalt, obtendo uma espécie de déjà vu auto-induzido. Mas pow, acho que não... Arriscar-me com frango requentado, de novo... E nessas condições de observação... Sei não, pode ser um erro fatal, sabe... Nas inúmeras probabilidades quânticas geradas pelo Super Computador, estará o caminho em que o frango requentado me mata; e se eu, sem querer, acabar observando logo esse caminho? Já era, seria um jeito bem idiota de morrer. Pois é, é assim que funciona, então preste atenção no que vai ficar observando por aí; o Super Computador é parcialmente neutro, ele apenas processa as variáveis, mas existe em nós uma proto-IA que nos permite manipulá-las um pouquinho.
Mas acreditem que deus é um Super Computador. Eu estou dizendo a vocês com toda a certeza ele é.
Paz.
P.S: Para você tem fetiche por credenciais, posto aqui um pessoalzinho aí que estão indo na mesma direção que eu (mas depois de mim!): http://www.bbc.com/earth/story/20160901-we-might-live-in-a-computer-program-but-it-may-not-matter
Eu não li a matéria, mas parece ser muito boa...
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Os Cacos do Homem
Não sou um exemplo de sofredor, longe
disso. Todavia, já vivi coisas e suportei coisas. Mas hoje, bem abrigado na
minha zona de conforto, distante no tempo — e em alguns casos, no espaço — não
entendo muito bem como suportei algumas coisas pelas quais passei. Agora, em
segurança, parecem, de certa forma, coisas assustadoras, inaceitáveis ou
insuportáveis. Parece que as situações pelas quais passei invés de me deixarem
mais forte, me deixaram mais fraco, porque penso que seria desesperador passar
por tudo aquilo de novo e que, no mínimo, reagiria de uma forma totalmente
diferente, da qual me orgulharia menos. E olha que nem são “fins de mundo”, na
verdade — embora agora pareçam —. É muito curioso como o ser humano se adapta
as mudanças, ativando novos modos de funcionar, às vezes muito mais fortes. Porém,
este texto não é um elogio às capacidades de superação humana, tampouco um
desabafo sobre a minha vidinha. Não. Este texto é uma crítica ao fato de termos,
o tempo todo, de superar aquelas coisas que já poderiam — há muito! — terem
sido humanamente superadas.
De modo bem geral, a humanidade é (está)
imbecil, somos (estamos) dignos de desprezo, essa é a verdade — ainda guardo uma
reserva de esperança, o que me obrigou a pôr os parênteses desta frase —.
Mas... Certas características do homem são respeitáveis. Este bicho se adapta
como nenhum outro, o que me leva a pensar que talvez seja justamente esta a dádiva
humana. Uma dádiva amaldiçoada, talvez: a maldição é que o homem não usa sua capacidade com sabedoria, perpetuando muitos dos nossos problemas; quando, não raro, criando novos.
O que faz o homem idiota quando um copo
cai e quebra? Adapta-se porcamente — sem ofensa aos porcos —: limpa tudo e
compra outro copo. E, o mais emblemático, não questiona o porquê dos copos
terem que quebrar sempre.
O que faz o homem inteligente quando um
copo cai e quebra? Adapta-se like a boss: primeiro de tudo pergunta o porquê
dos copos terem que quebrar sempre que caem no chão — Já se perguntou isso
alguma vez? — Depois, o homem descobre os motivos, por exemplo: existem leis da
física que determinam o fenômeno da quebra do copo. Mas não só isso, o homem
inteligente descobre que derrubar copos por acidente é uma coisa que
dificilmente o homem conseguirá evitar que aconteça uma vez e outra, pois não
temos uma coordenação motora perfeita ou reflexos super-heroicos para estarmos
seguros de que os copos nunca cairão no chão no que depender de nós. O homem inteligente
também irá considerar que o conteúdo que preenche os copos, às vezes, colaboram
para suas vidas úteis acabem em mil pedacinhos. E o homem inteligente chegará a
muitas outras conclusões. Então entendendo as circunstâncias, ele avaliará quais
serão as possíveis soluções para que os copos não quebrem mais.
Homem inteligente nº1: — Tem como controlarmos a gravidade para que os copos não caiam mais?
Homem inteligente nº2: — Por enquanto não
temos não, senhor.
Homem inteligente nº1: — Temos como deixar
o chão macio para que não quebre o copo, meu jovem?
(Jovem) homem inteligente nº2: — Tem
senhor, mas atrapalharia para nos locomovermos nesse solo fofinho, senhor. E
seria meio caro e trabalhoso demais, portanto não seria uma solução prática,
senhor. Melhor recolher os cacos e comprar outro copo, demandaria menos recursos.
Homem inteligente nº1: Temos como melhorar
cabalmente nossas destrezas para que nunca mais deixemos os copos quebrarem,
honorável parceiro?
(Honorável jovem parceiro) homem
inteligente nº2: Dificilmente, senhor. Além do mais, nem sempre os copos caem
por culpa do homem, senhor. Não resolveríamos, portanto, o problema amplamente.
Os homens inteligentes então seguem
procurando por muitas soluções cabeludas, até chegar à mais simples: substituir
o material com que são feitos todos os copos, por algum material mais resistente
aos impactos. Depois descobrem que é uma solução muito simples e deveriam ter
pensado nela desde o início. Mesmo assim se dão por competentes e saem da
divertida busca por soluções mais radicais com ideias novas para filmes sci-fi,
até que — depois de já terem morrido — as ideias se tornam realidade no futuro
promissor dos homens inteligentes — não exatamente com as mesmas aplicações que
pensaram atribuir a elas, é claro —, pois seus sucessores não estavam mais
ocupados em limpar suas salas de jantar por causa dos copos, então puderam desenvolver outras
coisas.
O homem inteligente descobre que não há
justificativa aceitável para que estejam fatalmente sujeitos ao fenômeno da
quebra dos copos, afinal — alimentar as fábricas de copos não é uma
justificativa aceitável, concorda? —. Depois constrói copos resistentes que não
quebram quando caem no chão, e o problema foi definitivamente resolvido, assim
copos e humanos viveram felizes para sempre.
Cara... já pensou nisso? Agora é a hora
que deixaria você pensando e acabaria o texto aqui, mas não me aguento.
Enfim... Não precisamos nos adaptar bravamente o tempo todo e ficar catando cacos de vidro again and again and again and again (...) como os outros bichos
da natureza inadvertidamente o fazem, coitados — não me refiro a catar cacos,
óbvio, e sim estarem sujeitos às circunstâncias evitáveis —. Somos muito estranhos e
temos essa capacidade de resolver problemas de uma forma peculiar, inclusive os
problemas mais sofridos, e muitos deles de uma vez por todas! Então, por que
não? Só por um século, peloamordedeus! Se não der certo, bem... a gente volta
tudo como é agora, prometo.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Amar e escrever
Fonte da imagem: http://www.bnp-chronicle.com/wp-content/uploads/2011/01/writing2.jpg
Não
necessariamente nessa ordem. Aliás, ordem pra quê? De qualquer forma, deixemos
essas confabulações para depois, certo? Agora que siga o texto em outro ponto, sendo
que já estamos pondo a ordem em questão aqui, mesmo...
Bem... Quero
ser escritor um dia. Um desses escritores praticantes, que se designam assim
quando lhe perguntam “o que você faz?”. Um dia também quero poder responder “eu
escrevo”. Uma criança de primeira série bem poderia dizer o mesmo, é verdade,
mas não com o sentido que quero dar a essa resposta: “Eu escrevo”. Ou quem sabe
sim? Talvez ser escritor seja, em certo sentido, o mesmo que voltar a ter 5
anos e estar na primeira série; afinal, quem mais se orgulha tanto de saber
escrever além destas duas classes de pessoas; uma quando recém começou a
aprender e a outra que está constantemente recém aprendendo?
Quero exercer
meu suspeitoso talento criativo e meu duvidoso talento literário. Tenho estado
cada vez mais inclinado a pôr a prova estas potencias qualificações. É aí que entra
uma inquietante questão: estou pronto para começar?
Penso que me
falta algo essencial. Experiência? Sim, sim. Às vezes me considero ainda muito cabeça de melão para escrever um livro. Acho que ainda não vivi o
suficiente para conseguir criar algo interessante; sabe... Com
sustância! Porém, como sou um cara confuso e preguiçoso por excelência,
eventualmente me vem a indagação se isso não seria só uma desculpa comodista; ora,
impossível não conseguir escrever algo interessante com a bagagem de experiências
que disponho até o momento.
Acontece que desculpas,
meu caro, tem sua função e fundamento. Nunca são SÓ desculpas. Falta sim algo
que primo como elemento essencial, no meu caso. E, sem suspenses, esse algo é simplesmente
amor. Mas não limite o amor que falo aqui ao romance. Expanda o significado ao
máximo, pois o amor não emana só entre os casais, o amor que falo aqui é o amor
que permeia a vida dos homens em seus mais gloriosos atos.
Pois bem... Não
posso dizer que nunca experimentei, sabe... o tal do amor. O que posso dizer é que
não estou satisfeito. Ás vezes a vida proporciona degustações aqui e ali, o
cheirinho de um assado de amor acolá, desses que, antes que você desfrute, ele
torra por descuido de alguém; mas nunca realmente um prato cheio, uma quentinha
depois da labuta, muito menos um banquete de Platão — Platão podia se chamar
Pratão, mas seria um trocadilho besta —; enfim, nunca nada de empanturrar os
mais esfomeados. Degustações são muito limitadas, porque a experiência da degustação
não representa a experiência plena do consumo. Como assim? — Você poderia
perguntar — Ora, um vinho que você degusta no supermercado, que você prova
sabendo que está de passagem, servido naqueles copinhos de plástico — já começa
por aí! — por exemplo, não está na garrafa que você deixa na adega até o
momento certo de abrir, escolhido com capricho; você provavelmente não vai
dividi-lo com a pessoa que você gostaria naquele momento; você não estará
cercado do ambiente ao qual você estaria desfrutando o tão aprazível cabernet; ou
seja, você não degusta apenas o objeto, você degusta o momento, a companhia —
nem que seja a sua somente — e toda a atmosfera que o envolve. Degustações são
limitadas por isso: o sabor dos alimentos transcende o sentido palatal. E como
o amor é um alimento para a alma, degustações não são suficientes — talvez
sequer seja amor, at all —.
Eu quero
experimentar todos os amores na minha sala de estar, ficar empanturrado de
todos os tipos e sabores: amor pela família, amor pelos amigos, amor pelo meu
amor, amor próprio, amor pela vida e, nesse caso em especial, amor pela
literatura. Quero temperar todos com tudo o que tenho de melhor. Talvez assim,
saciado, eu consiga produzir um delicioso livro que alimentará outras almas.
Agora é
oportuno retomarmos a questão da ordem. Com relação a isso, após refletir
bastante, estou mais inclinado a pensar que só serve para atrapalhar, mesmo.
Pra quê esperar tanto, não é? Li uma frase na internet esses dias que dizia o
seguinte: “If you wait for perfect
conditions, you will never get anything done”. Parece que é um trecho da
bíblia; enfim, é um pensamento interessante. Talvez condições perfeitas nem
sequer existam, sendo assim, provavelmente, esperaria para sempre o amor em toda
sua virtude, e nunca teria realmente escrito um livro. E, pasme ou não,
acredito que essa condição idealizada de vida surtiria justamente o efeito contrário:
acho que com a vida tão plena, aí mesmo que não escreveria nada! Bem que soa como
contradição, não é? Bem... Prefiro entender o que digo aqui mais como a
evolução de um raciocínio, o qual em algum momento surtado sofreu um plot twist.
O que se tira
de tudo isso, então? Cheguei a algumas conclusões. Primeira: Paradoxalmente,
talvez, as condições ideais para realizar algo — dentro de uma dimensão
concebível, claro — surjam justamente após você já ter posto em prática o ato
almejado, essa é uma estranha ironia do processo criativo — inclusive, percebi
isso recentemente no relato de criação de autores já consagrados como Alan
Moore e David Lloyd —; segunda: É desinteressante, no final das contas, ter
todas as condições atendidas, pois a insatisfação é uma das mais fortes e belas
forças motrizes de um bom autor; e ultima: É melhor não esperar condições
perfeitas com a ilusão de que somente aí amará o resultado daquilo que fez, pois o mais importante é amar o próprio ato de fazê-lo.
Com tudo isso
em mente, é... Acho que seria bom começar a escrever!
sábado, 28 de abril de 2012
Lucidez
Ruben Moreno - Four Dimensions of Mindfullness
Lucy nunca se
soube no mundo dos homens. Deitava-se no chão e cobria as estrelas com os
dedos. Nunca piscava, tinha medo de não querer mais abrir os olhos. Visitava
sempre o mesmo céu noturno, apresentava-se a cada vez. Jovem nunca fora desde
que nasceu, a não ser, talvez, pela tez virgem que a vestia, pela voz suave que
só os poetas ouviam, por suas mãos viçosas, pelos olhos pueris de desarmar o
tempo... E pelo próprio tempo que não tinha. Também não era velha, a não ser,
talvez, pelo andar digno de quem desenha o mundo, pelo saber que só os poetas
sabiam e por esses mesmos olhos que pintavam as cores dos astros. Ria-se dos
pensamentos que lhe pipocavam a mente: queria ser flor de vinte dias, o cometa Halley,
um pingo da chuva, um sorvete de chocolate com baunilha, um símbolo indígena, Ártemis,
um gato de Louis Wain...
Não sabia em quais
mentiras acreditar. Para Lucy, a rosa dos ventos não apontava direções, por
isso seguia pelo caminho em que suas pernas andavam. Amanhecer era um milagre
todos os dias. Tudo era um milagre. Passava pelas janelas das casas das pessoas
e acenava para tudo o que lá havia. Tudo acenava de volta, exceto as pessoas. Sacudia
os ombros quando ria, e ria muito disso. Caminhava de mãos dadas às incertezas
do próximo passo. Sempre dizia que não existia fora, mas que a luz era uma
cortina linda que nos protege da escuridão que mora lá. Tudo era um paradoxo. E
o maior de todos os paradoxos, o que Lucy mais gostava, era o de nada ser, na
verdade, um paradoxo.
Certa vez,
andando pelas ruas, viu num beco um punhado de crianças rindo de um filhotinho
de vira-lata todo tosado, exceto a cabeça que continuava bem peludinha como
sempre fora, provavelmente. Ela então tirou toda sua roupa, exceto sua touca, e
sentou-se do lado do cãozinho. Daí os adultos juntaram-se as crianças, mas não
estavam mais rindo.
De lá pra cá,
vinha e ia, mas voltava sempre para o mesmo ponto: o alto de uma alva colina,
para ali se apresentar a noite, ouvir sua música e dançar... E dançava a noite
inteira sobre os pés da existência. Quando cantava percebia que as palavras
traçavam ritmos, ecoavam no infinito e modelavam o balé cósmico. Era impossível
falar sem sentido, dizia. Sabia, quase sem perceber, que nada que existia tinha
explicação fora de si mesmo. Lucy não tinha uma para ela. Até um ser que fosse onisciente
descobriria, mais tarde, não ser tão onisciente assim, pois não possuiria o
poder de defini-la. Havia só um ser
capaz disso: o homem do mundo dos homens.
Lucy nunca se
soube no mundo dos homens. Caminhava seminua nas paisagens que pintava. Acordava
sempre dentro de seu sono. Seguia seus passos de olhos fechados, pois uma vez
piscara. Conduzia sua própria nave nas viagens entre bolhas de salão. Sim, com
certeza ela fazia tudo isso e muito mais. Contudo, sem nunca sair do quarto de
um manicômio.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Contato
René Magritte - Lovers (1928)
Seu comigo, tão consigo
Cria sentido
Nessa saudade
Que não para
De aumentar...
Não consigo, não contigo
Fitar dois palmos
Um par de asas
Ou os passos
Pra ficar...
Meu comigo, seu consigo
Constroem pontes
Entre horizontes
Que se perdem
Em nenhum lugar...
Meu contigo, seu comigo
Querem abrigo
Sair do castigo
Do soslaio
De seu olhar.
sábado, 22 de outubro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Pedra de Calcutá
Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!
Mário Quintana
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