domingo, 16 de maio de 2010

Eterno nascer

Expelido... Jogado explosivamente para dentro de um mundo trêmulo, temporário. Não sou mais do que uma idéia de vida... Um entusiasmo frenético de ser, debatendo-se para sobreviver à noite. Um fragmento egoísta de consciência, forçado pela crueldade primitiva a nadar num espaço ansioso. Correndo para vencer... Para viver. Apesar de que com minha vitória, meus irmãos são condenados aos milhares, sacrificados para a chance da minha sobrevivência.
... Meu direito de construir o futuro à minha semelhança. O prêmio no jogo de azar da evolução.
Assim no Céu como na Terra. Não há bondade ou maldade neste lugar. Não há culpa. A única obrigação da vida é sobrevivência. Somos todos deuses ou demônios... Exercendo a energia da vontade para espremer a criatividade anárquica da natureza à nossa imagem.
Monumentos rígidos, memoriais à pobreza das nossas imaginações.
Então nadem. Abracem o pensamento. Pensem. Pensem no que são... No que gostariam de ser. Construa seu futuro. Dê à realidade uma forma agradável.
Vá... Mas saiba que todo mundo está sujeito às regras arbitrárias de... “Sexo e Morte”.





(Textículo oriundo da HQ Hellbrazer nº 10 edição de Out. 88)

3 comentários:

  1. Reparou como esse texto tem a ver com a essência da psicanálise? Cada frase..."fragmento egoísta de consciência"; "deuses e demônios". Forçados pela crueldade primitiva a nadar num espaço ansioso...Freud viajaria nessa HQ...bjooo, adorei.

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  2. Também fiz várias conexões com as idéias freudianas... Pulsões de vida e de morte, eterno conflito. Eu nunca havia percebido a analogia entre a evolução e os jogos de azar, cujo prêmio nesse caso seria o “direito de construir o futuro à minha semelhança”. Como Freud diria, a origem primordial da energia psíquica está no desejo sexual, ou seja, o desejo de se perpetuar. A imortalidade na criação dos semelhantes. E a pulsão de morte como uma busca da homeostase perpetua. Ao mesmo tempo em que primitivamente objetivamos transformar a realidade, transformando a nós mesmos, queremos a constância, repousar na essência. Acho que é assim com tudo na vida. A força vital alimentada nas contradições. De tudo uma mensagem: “Nossa vaidade nos impele a fingir que temos escolha, no entanto só fazemos o que nos é devido. Vivemos”. Foi mais ou menos isso que extraí dessa passagem da HQ. Achei genial!

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  3. Fingir que temos escolha, que somos senhores da nossa própria morada, como Freud nos fez questionar...quer prova (avaliação?) melhor da compreensão de uma teoria do que o que acabamos de fazer? Escrevi outro dia "Farpas e flores ao pé do ouvido...". Vida e morte. Pulsões paradoxais. Pelo visto maio nos inspira a esse clima, o dos grandes paradoxos! Bjo grande, com mta admiração...

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