sábado, 26 de junho de 2010

A beleza das lágrimas

Belos rios,
estes rios de sal,
peregrinos do deserto,
este deserto que nos veste.


Belas cachoeiras,
estas cachoeiras de ruínas
que descem lá das nuvens,
estas débeis nuvens de castelos condenados.


Olhar a vida mais bela
é olhar através destes aquários,
estes aquários de memórias e aprendizados.


A vida é bela porque se derrama,
correndo livre pelos belos córregos da alma,
pois bela é a beleza que evapora.



Soneto I

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia 
Apenas entre nós - e eu vivia 
No doce alento dessa virgem bela...


Tanto amor, tanto fogo se revela 
Naqueles olhos negros! Só a via! 
Música mais do céu, mais harmonia 
Aspirando nessa alma de donzela! 


Como era doce aquele seio arfando! 
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando! 


Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando... 
Cheio de amores! E dormir solteiro!



Álvares de Azevedo

sexta-feira, 25 de junho de 2010

As fadas prometem mescalina, vacilam miseravelmente. Sobram planos, chuva, Supertramp e a mente absorta entre o céu e o asfalto.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Eu não sei o que escrever


Eu não sei o que escrever, só sei que estou precisando. Tenho muito a dizer, e de tanto, surge aquela preguiça diretamente proporcional. Assim como muitas coisas, tipo: quando se tem muitos estudos para fazer ou trabalho acumulado, a preguiça se torna algo diretamente proporcional, e a desculpa de não saber por onde começar é a preferida, apesar de qualquer outra servir.
Mas dias atrás pensava o contrário: “Porra! Faz tempo que não escrevo coisas minhas no blog! Acho que não tenho nada para dizer...”. Tenho. Sempre temos, mas às vezes não queremos. Minha vontade era avaliar minha vida estando fora de mim mesmo.

- Olha ali o Carlos! Vejamos... Hoje ele parece [feliz / triste / ansioso / bem humorado...], mas nem penteou o cabelo, será que está com a auto-estima baixa? Ou avesso à sociedade? Ou ainda, está com a auto-estima tão alta que nem liga para o que os outros pensariam de seus embaraçados fios negros.

Esse Carlos de fora teria muitas dúvidas também, mas existe uma diferença crucial na avaliação dele: Ele poderia dar um veredictum e se contentar com ele, aceitando-o e o respeitando até o último dia de sua vida. Afinal temos excelência em formular resposta para a vida de terceiros, isentos de responsabilidades que somos, e no fim, se nos enganássemos (o que acontece muito), seria só mudar de opinião e ficaria tudo numa boa. Simples como não poderia ser. E no caso de simpatizarmos com a figura, melhor ainda! Não temos nem dúvidas, seria como assistir a partida de seu time favorito e saber exatamente para quem o meia deveria tocar a bola, como bater aquela falta perigosa, perto do gol adversário, e ainda mais, o que o juiz e o bandeirinha deveriam julgar do lance duvidoso: “Juiz filho da puta! Foi pênalti, foi pênalti! Cacete!”, “Porra caralho! Foi na bola! Vai dar cartão pra tu mãe, viado!”, “Foi escanteio! Tiro de meta o caralho! Tiro de meta é atirar na tua mãe, oh arrombado!”. E por aí vai... (Sim, a copa do mundo talvez tenha me inspirado um pouco). Mas avaliar sua vida estando nela é como ser o atacante que vai cobrar o pênalti da decisão: calafrios, nervosismo, pressão, taquicardia, medo de errar, “pra que lado chutar?”, 200 Aves Marias por segundo (100 se for um bom ateu).
O que resta é dizer o que sente. Pra quem? Para um blog, quando os amigos faltam e você não consegue confiar mais em ninguém, ou talvez em si mesmo. Aqueles xingamentos atrás dizem alguma coisa, mas ainda não sei o que escrever.